Índice

 

Ciclídeo Notícias

2

por Paulo José Alves

 

 

 

Cooperativa APC

3

 

 

Ciclídeos africanos p/ aquários de 60 a 100 litros

4

por Manuel Zapater / Ricardo Fernandes

 

 

 

Metriaclima sp. Msobo “Magunga Reef”

8

por João Magalhães

 

 

 

Steatocranus casuarius

10

Por Luís Rios

 

 

 

Anúncios - sócios

12

 

 

Três faixas

14

por Alfredo Figueiredo / Rui Estrelinha

 

 

 

APC – Ficha técnica

16


Editorial

por Paulo José Alves;

Presidente da APC (#2)

 

Perante as inúmeras espécies que tentadoramente aparecem nas lojas da especialidade, perante as esplêndidas fotos que vemos em livros e revistas, perante os exemplares que um amigo ou conhecido tem, a nossa vontade aquisitiva vacila e fraqueja muitas vezes. Isto é, levamos para casa algo que muitas vezes lá não vai encontrar condições condignas de existência pois que outros, demasiados, companheiros de escamas já ocupam todo o espaço disponível. É um drama quotidiano, temos alguns aquários que podem dar abrigo a um determinado numero de espécimes em boas condições de vida, mas a realidade é que perante as solicitações já temos demasiados peixes e ainda por cima sabemos onde existe à venda determinada espécie sem a qual não podemos viver… Este filme é por demasiado conhecido e exige para que não se repita sobretudo uma boa dose de disciplina. Primeiro que tudo temos que eliminar a “coleccionite”, maleita em que a vitima junta indiscriminadamente espécies conforme vão aparecendo, esquecendo que o seu desejo pueril de ter tudo o que acha bonito é impossível de concretizar . O realismo tem que imperar, temos que equacionar o numero de aquários disponível, o material que temos e as características da agua disponível, depois podemos prever o que vai acontecer no futuro próximo e a médio prazo. Tendo portanto os recursos disponíveis equacionados podemos planificar as aquisições embora estas estejam muito dependentes da anémica oferta do mercado português. Este factor significará que em alguns casos vamos ficar anos à espera da tal espécie… Podemos claro também vermo-nos livres de espécimes que nos interessam menos e consequentemente fica-mos com a possibilidade de pôr outra espécie no seu lugar. Nunca nos podemos esquecer do factor compatibilidade, os Ciclídeos são por regra agressivos e territoriais, não podemos simplesmente esvaziar o saco no aquário e “seja o que Deus quiser”. O custo dos peixes e do material a adquirir tem obrigatoriamente que ser tido em conta, o nosso hobby não é propriamente barato e por vezes o filtro que necessitamos ou o casal selvagem que queremos têm que esperar por melhor oportunidade. Por fim, existe na vida da maior parte de nós um factor essencial e que é um freio importantíssimo nos gastos com os peixes e sobretudo com a expansão do numero de aquários, a esposa! De facto, sempre vigilante e relativamente tolerante, ela suporta melhor ou pior o nosso passatempo mas em geral marca limites importantes aos nossos devaneios como por exemplo arranjar mais um aquário de metro e meio: “Nem penses! Se insistires sais tu e os aquários todos pela porta fora!..” Evitemos então cenas destas indo até onde sentimos ser possível e não forçando nunca a nota. Se mantivermos os espécimes que temos em boas condições e com espaço suficiente teremos inevitavelmente a exibição de beleza que constitui a recompensa que esperamos da ciclídofilia. Se no futuro podermos ter o sonho máximo, uma Fish-Room, poderemos alargar o numero de espécies, até lá devemos gerir da melhor forma o que temos e nunca esquecendo que somos responsáveis por estes seres de escamas de que gostamos tanto e que mantemos junto de nós.¥


Metriaclima sp. Msobo “Magunga Reef”

Artigo e fotos  de João Magalhães; APC #45

Este magnífico exemplar pertence à família dos Ciclídeos, mais propriamente a um grupo de peixes originários do Lago Malawi chamados de M’bunas.

Os M’bunas são caracterizados por viverem em zonas do lago pouco profundas, normalmente nunca abaixo dos 30m de profundidade, e ao mesmo tempo rochosas, já que este tipo de peixes se alimenta basicamente das algas (Wufwuchs) presas às rochas e dos microorganismos que nelas se escondem.

Esta espécie faz parte das populações que habitam o Norte e o Centro da costa Este do lago (Tanzânia), e ocupa um habitat geralmente rochoso entre os 5 e 10 metros de profundidade. O macho é muito territorial defendendo a sua “toca” entre as rochas.

 Normalmente as fêmeas e os jovens vivem isolados ou em pequenos grupos.

No que respeita à sua morfologia, os machos atingem normalmente uma dezena de centímetros e a sua coloração é à base de preto brilhante com bastantes pigmentos azuis que variam na sua quantidade dependendo do local onde este é capturado. Os machos das populações do Norte, entre Magunga e Manda, possuem um padrão que se baseia normalmente em 2 barras irregulares horizontais negras com muitos pigmentos azuis, os da zona central do lago, entre Ndunbi Reef e Lundu possuem menos pigmentos azuis onde o preto é dominante. As fêmeas por seu lado têm uma coloração que vai desde o amarelo ao laranja vivos, e geralmente ficam mais pequenas que os machos.

Como os outros peixes pertencentes a este grupo – M’bunas, esta espécie pratica a incubação bucal maternal e o ritual do acasalamento é conhecido pelo “acasalamento em T”. A fêmea incuba os ovos durante 3 a 4 semanas, ao fim das quais liberta os seus filhos, no entanto continua a guardá-los e na presença de uma possível ameaça rapidamente os volta a guardar na sua cavidade bucal. Nem todos os M’bunas têm este comportamento para com os filhos.

Os alevins nascem com um tamanho de aproximadamente 5 mm e possuem uma cor alaranjada transparente, como se pode ver na imagem seguinte.

Para uma boa manutenção em aquário devemos ter a água a uma temperatura entre os 24 e os 28ºC e um ph entre os 7.5 e os 8.5. Como tem um comportamento agressivo para com os da mesma espécie, devemos providenciar um aquário com o mínimo de 150L colocando de preferência um macho e várias fêmeas. Os machos são muito activos mas pouco agressivos para com os de outras espécies, já as fêmeas são extremamente calmas.

Este combinado de cores proporciona um ambiente muito bonito no aquário, mesmo não colocando qualquer outra espécie.

A sua alimentação poderá ser feita à base de alimentos existentes no mercado, como flocos secos, pastilhas, granulados e outros, como também com base na chamada “receita” composta por espinafres, ervilhas, camarões e spirulina em pó, tudo misturado formando uma papa, que depois de congelada em cubos poderá ser administrada várias vezes ao dia. Deve-se no entanto evitar alimentos com muitas proteínas animais, por exemplo larvas de mosquito ou coração de boi, devido ao seu intestino não estar preparado para digerir tais alimentos, podendo nestes casos virem a sofrer de perturbações intestinais ou mesmo falecer. Uma das doenças mais conhecidas destes peixes é a chamada “Malawi Bloat”, que em português significa “inchaço do Malawi”. Mesmo havendo pouca informação relativa às causas desta doença, algumas das mais apontadas são respectivamente uma má alimentação (excesso de proteínas animais) e a água em más condições (excesso de poluição) devido a excesso de excrementos dos próprios peixes, mudas de água pouco frequentes podem mais facilmente fazer com que isso aconteça.

Aconselha-se mudanças de água semanais e na ordem dos 30% do volume total do aquário.

A espécie citada é uma das três existentes no lago, e segundo o livro de Ad Konings “Os ciclídeos do lago Malawi no seu ambiente Natural” este grupo de Maylandias / Metriaclimas é dividindo nas seguintes espécies:

- Maylandia Msobo Membe Deep; - Maylandia Msobo Magunga; - Maylandia Msobo Heteropictus.

A primeira das espécies é caracterizada por habitar zonas mais profundas que as duas restantes, entre 15 e 30 metros de profundidade, e é encontrada na zona do lago entre Membe Point e Maingano. Os machos possuem uma coloração azul clara e a metade inferior do corpo é preta, sendo as fêmeas amarelas.

A terceira espécie é caracterizada por ter uma cor à base de azul claro com barras verticais pretas pouco espaçadas entre si. Esta espécie faz parte das populações que habitam o sul do lago, entre Ndjambe e Lundo Island. A coloração das fêmeas varia entre o amarelo pálido e o branco dependendo da zona de origem. ¥