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Ciclídeo Notícias

 

por Paulo José Alves

 

 

Qual é o ciclídeo qual é ele que...           

3

por Miguel Figueiredo

 

 

 

Julidochromis ornatus

5

por Luís Miguel Alves

 

 

 

Protomelas sp. “steveni tawain

7

por Ivo Fernandes

 

 

 

Microgeophagus ramirezi

10

por Ricardo Fernandes

 

 

 

Apistogramma, um achado da evolução

13

por Alfredo Figueiredo

 

 

 

Cooperativa APC

15

 

 

 Anúncios / sócios

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APC – Ficha técnica 16


Editorial

por Paulo José Alves;

Presidente da APC (#2)

 

Uma praga que tem vindo a assolar de forma cada vez mais insistente a ciclidofilia é a proliferação de híbridos, quer de origem caseira quer provenientes do comércio. Deste último a primeira grande investida veio com o Red Parrot, peixe disforme que seria um cruzamento de Heros severus com Amphilophus citrinellum, segundo a teoria mais propalada. No Oriente a grande moda parece ser o Flower Horn, mistura de não menos de três espécies. Por cá a grande ofensiva é sem duvida a das Aulonocaras híbridas, Rubin, Red, Eureka, OB etc. Se a selecção com o intuito de obter certos padrões de cor é aceitável, pois que a essência da espécie continua a mesma, o cruzamento de espécies leva a um desvirtuamento total do que proveio da Natureza. É obtido algo que não é isto nem aquilo, cujas características não são previsíveis e que só existe devido às condições anormais existentes no aquário. Infelizmente a regra de que os híbridos seriam estéreis é muitas vezes quebrada e esses seres anormais podem propagar-se infinitamente. Estou perfeitamente consciente que na maior parte dos casos o amador de ciclídeos está completamente a leste que aquilo que está a comprar é uma mixórdia genética feita por criadores que buscam exclusivamente o lucro. Claro que há situações em que é obvio o que se está a obter, nomeadamente no caso das lojas que vendem ciclídeos, geralmente Mbunas, com a designação de “sortido”, varias espécies juntas, com a consequente facilidade de trazer as fêmeas erradas, ou então o caso do ciclídeo “vermelho” ou “amarelo”…No entanto o comércio não é o único agente da “hibridomania”. Uma quantidade de misturas de espécies são feitas constantemente de forma inocente por muitos de nós. Como exemplo, os ciclídeos do Malawi são um grupo muito popular e que se híbrida com alguma facilidade de modo que andam por aí mais “coisas esquisitas” a circular no meio ciclidófilo português do que aquilo que se pensa. Neste caso particular muitas vezes será necessário estar presente na altura da reprodução para confirmar quem de facto o pai é. Este fenómeno tem um âmbito mundial de modo que devemos ter cuidado com aquilo que se compra, ter a certeza do que é, e ter a certeza do que se reproduziu.

A posição da APC é bem clara neste aspecto, variedades obtidas por selecção são aceitáveis, o que mostra que não somos puristas ou radicais, mas a hibridação nunca. Desfrutemos do que a Natureza nos ofereceu sem a corromper.

Peço-vos, não criem híbridos, não os dêem ou vendam, não os comprem e previnam os vossos amigos sobre o assunto. ¥

Julidochromis ornatus (Boulenger, 1898)

A mais pequena das Julias do Lago Tanganyka 

                                                               Texto e fotos de Luís Miguel Alves; APC #8

 A pequena Julidochromis ornatus foi a primeira das espécies de Julias anãs a ser criada em cativeiro. Tem uma longa tradição na aquariofilia de ciclídeos, tendo sido exportada do lago Tanganyka a partir do final da década de 50.

 

Encontram-se várias designações, sendo a mais comum “Julia amarela” ou “Golden Julie”. Na realidade apenas algumas populações exibem um tom amarelo, sendo invulgar encontrar Julidochromis ornatus com coloração no mercado. Neste aspecto, as Julias seguem a tendência de outras espécies do lago, em que o comportamento e diversidade de formas se sobrepõem à coloração intensa. É possível também assistir a mudanças de cor súbitas nos indivíduos, como na maior parte dos ciclídeos, relacionadas com situações de stress e competição territorial ou reprodutiva. Está reportado também um fenómeno de perda de cor por perda de informação genética ou reprodução consanguínea. É também de evitar a sua convivência com outras espécies de Julias, bem como espécies próximas como o Chalinochromis brichardi, pois será provável o nascimento de “mulas”, ou exemplares cruzados.

 Nunca encontrei no mercado a identificação da população, provavelmente por ser uma espécie já antiga no mercado. Estão identificadas 4 populações: Kapamba, Uvira, Kalungwe e Mbity, sendo que as mais a norte apresentam colorações mais intensas.

Como todas as espécies do lago Tanganyka, deve ser mantida em águas duras, alcalinas. Sendo uma espécie adequada a aquários de pequena dimensão, e estando estes normalmente limitados na sua capacidade de filtragem biológica, um bom compromisso será estabilizar o PH em 8.2, GH em 8~10 e KH 12~15. A sua melhor coloração será sempre exibida com uma excelente qualidade da água e PH 9. O factor mais importante é a estabilidade química, sendo que o lago tem muito poucas variações em contraste com outros ambientes como o Amazonas. Os exemplares selvagens serão muito pouco tolerantes ao nitrato, mas eu mantive por muito tempo J.ornatus com nitrato superior a 150ppm tendo,  inclusivamente, conseguido reproduções sucessivas.

O aquário deverá ter refúgios rochosos, simulando o ambiente natural desta espécie, as margens rochosas do lago; Uma das atracções em relação a esta espécie é a sua natação, mais ligada às superfícies e texturas que à noção de vertical e direcção luminosa.

 As Julias reproduzem-se com facilidade uma vez formado um casal. Para tal será necessário obter cerca de 5 a 6 exemplares juvenis, com 3 a 4 cm, e esperar a formação expontânea. Reproduzem-se depositando os ovos em refúgios naturais ou escavados pelas próprias; Um dos aspectos mais curiosos desta espécie é a sua capacidade para modificar ou adaptar o ambiente circundante. Sendo muito territorial – leia-se ligada ao território – qualquer alteração será tomada como um reinicio, sendo provável a dissolução do casal formado, e novas disputas pelos espaços criados.

 Conseguida a reprodução, e dada a sua agressividade, as Julias tenderão a invadir todo o espaço do pequeno aquário, expulsando ou aniquilando qualquer espécie menos agressiva. Por este motivo, um comunitário do Tanganyka que inclua Julias deverá ter dimensões médias e divisões ambientais marcadas (regiões rochosas, de águas livres e plantadas). Desde que disponha de refúgios adequados, consegue suportar as espécies maiores e mais agressivas do Tanganyka.

 A Julidochromis ornatus é omnívora, não apresentando grandes requisitos alimentares. É comum o aparecimento de indivíduos com a região abdominal levemente reentrante, resultado do domínio e subdomínio do espaço e alimento existente.

 Em resumo, A Julidochromis ornatus é um óptimo começo na aquariofilia de ciclídeos, sendo resistente e adaptável, e muito interessante pela sua natureza selvagem e aguerrida. ¥