Índice

Notícias

 

APC realiza 1ª assembleia geral

2

Direcção cria Áreas Executivas

3

Quotas pagas até final de 2004

3

Nova revista de aquariofilia

3

Faleceu Jean-Claude Nourissat

3

 

 

Aquadecor 2003                

5

por Miguel Figueiredo

 

 

 

Apistogramma Borellii

7

por Paulo José Alves

 

 

 

Como criar Artémia salina

9

por Ricardo Fernandes

 

 

 

Ciclídeo sob disfarce

11

por Miguel Figueiredo

 

 

 

Um arco Íris no aquário

12

por Alfredo Figueiredo

 

 

 

Ciclídeos no meu jardim

14

por Alberto Gil

 

 

 

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 Editorial    por Miguel Figueiredo

Caros Amigos,

 Tenho o prazer de apresentar o primeiro número da Portugal Ciclídeos. Para mim esta é uma edição simultaneamente feliz e triste. É feliz por inaugura uma publicação que, esperamos, seja um veículo de divulgação sobre os ciclídeos. É feliz também porque cobre a primeira participação da APC em eventos: a presença na Aquadecor.  Porém, é triste, muito triste porque tem  de noticiar o óbito de uma das maiores individualidades de sempre na área do estudo, manutenção e divulgação de ciclídeos: Jean-Claude Nourissat.

Mais que ninguém, os aquariofilistas sabem que a vida é uma coisa frágil, que tem de ser apoiada, incentivada e apaparicada. Os peixes dos nossos aquários duram apenas alguns anos, se tanto. Porém, com algum empenho do aquariofilista, irão reproduzir-se e os seus descendentes colonizarão novos lares, fascinando outros entusiastas e tornando o mundo um pouco mais vivo, neste particular meio ambiente que é o interior das nossas casas. Jean-Claude Nourissat foi um importante vector de divulgação da magia da vida. Muitos de nós, sem sequer nos apercebermos, mantemos ou iremos manter espécies e peixes que a ele devem a sua presença entre nós. Directa ou indirectamente Jean-Claude continuará a inspirar outros amantes da vida e natureza.


 

Um arco-íris no aquário    Texto e fotos por Alfredo Figueiredo 

Contou-me um amigo lojista a peripécia que lhe aconteceu depois de uma importação de várias espécies, nas quais se incluía o Kribensis (Pelvichacromis pulcher), a que ele muito estava habituado e pensava conhecer ainda melhor. Talvez o facto de os aquários em que os seus ciclídeos passam os primeiros tempos na loja serem ornamentados tenha proporcionado o que viu uma semana depois de terem chegado. Tinha então quatro espécies num tanque de 200 L. O impensável, para ele, aconteceu: um casal de Kribensis defendia vigorosamente uma nuvem de alevins a um canto do aquário.

 Por alguma razão é o ciclídeo preferido de muitos. Maleável o suficiente para um recém-chegado ao mundo dos ciclídeos. Pesado quanto baste para o lobo-velho da aquariofilia. O certo é que não pára de surpreender, pela positiva. Durante os últimos 20 anos, o Kribensis tem vindo a alcançar grande popularidade, não só por entre os iniciados na família Cichlidae que, inevitavelmente, acabam por gostar dele ao fim de algumas mortes no aquário, mas também por entre os mais experimentados, que estão sempre a fim de tentar novas misturas de variedades e compatibilidades durante a época de reprodução.

 Diz-se existir alguma controvérsia quanto à sua introdução no hobbie, que terá tido lugar na década de 1950. Inicialmente deu pelo nome de Pelmatochromis Kribensis ou mesmo Pelmatochromis Taeniatus, tendo mudado de género e sucessivamente de nome específico, até chegar àquele que hoje lhe é unanimemente reconhecido: Pelvicachromis pulcher, nunca renunciando porém ao apelido de Kribensis.

 

P. Pulcher macho

 É oriundo do continente Africano e por isso (ciclídeo africano) pode ser ingenuamente confundido (pelo menos em denominação) com os ciclídeos africanos dos grandes lagos do Rift. Nada mais errado. Tem muito mais a ver com os seus parentes do outro lado do Oceano Atlântico, aqueles que habitam as águas ácidas da América do Sul. Por outras palavras, e recorrendo à teoria da evolução, o Kribensis tem um ancestral comum com estes últimos muito mais recente do que com os ciclídeos dos grandes lagos. Terão ocupado os mesmos nichos ecológicos até à separação dos respectivos continentes, adquirindo então uma evolução paralela. É, portanto, incluído na categoria (não taxonómica) de “ciclídeo anão” e podemos, efectivamente, encontrar-lhe variadas parecenças com os seus primos americanos, quer fisionómicas quer etológicas (a principal: ambos ocupam a zona mais baixa do aquário, subindo à superfície apenas para se alimentarem).

 A química da água de origem diz-nos que é compatível com uma água de pH perto da neutralidade, isto porque podem ser encontrados em locais com alguma acidez mas também noutros onde predominam valores acima de 7, como no Delta do rio Níger. Este é outro factor de interesse na manutenção do peixe já que não teremos de nos preocupar com a água se esta estiver com um pH neutro e os restantes parâmetros dentro da normalidade. Convém não esquecer que esta foi, naturalmente, uma vantagem também explorada pelas estações de criação em massa de peixes tropicais que podemos encontrar um pouco por toda a Europa.

 A minha experiência vai de encontro à maioria dos relatos que estão disponíveis on-line sobre esta espécie, nomeadamente a sua famigerada agressividade em comunitários pouco povoados. No entanto, é importante salientar que cada variedade e, mais concretamente, cada peixe, tem a sua personalidade (este facto adquire especial importância quando se fala de ciclídeos...).

Há, assim, algumas nuances que importa mencionar. Particularmente interessante é o comportamento reprodutivo, que segue um conjunto de etapas que estão como que padronizadas, mas em cada casal (experimentei três) encontrei pormenores verdadeiramente deliciosos, que são mais um contributo para se cair na tentação de o manter repetidas vezes e, mais uma vez, lhe dão um perfil bem interessante. Tanto pode acontecer o macho apresentar mais tendência para guardar o território como também para relevar essa função para a fêmea.

 A etologia reprodutiva é, assim, variada quanto baste para não enjoar: podemos encontrar em alguns machos uma marcada agressividade para com a fêmea quando surgem desavenças, mas, noutros casos, o macho pode fazer lembrar os primos americanos, nunca ousando interferir nas andanças da fêmea enquanto esta cuida da prole.

 Podem coexistir com peixes cuidadosamente seleccionados, sendo que há grandes probabilidades de matarem qualquer um que os importune. Relembro o episódio que tive a oportunidade de presenciar quando tinha no aquário um casal reprodutor com duas cobras kulli e um plecostomus. As primeiras, sempre escondidas, apareceram de um momento para o outro mortas e o segundo acabou dolorosamente no mesmo caminho.

De resto, é um ciclídeo que não nos colocará dificuldades adicionais, adaptando-se a todo e qualquer tipo de alimento, incluindo flocos (característica que por vezes não encontramos nos anões sul-americanos).

 Concluindo, o Kribensis é um peixe bem activo e curioso, muito pouco exigente, não o considerando, contudo, um peixe adequado aos principiantes no hobbie. Lembro que, invariavelmente, são territoriais e têm uma grande agressividade aquando da reprodução (podendo claramente ser dissipada em aquários bem guarnecidos em termos de esconderijos e de volume acima dos 400L).